Pergunta 171. Como devem os que recebem o sacramento da Ceia do Senhor preparar-se para o receber?
Resposta: Os que recebem este sacramento devem preparar-se para o receber, examinando-se a si mesmos, se estão em Cristo, a respeito dos seus pecados e necessidades, da verdade e medida do seu conhecimento, fé, arrependimento, amor para com Deus e para com os irmãos; da caridade para com todos os homens, perdoando aos que lhes têm feito mal; dos seus desejos de ter Cristo e da sua nova obediência, renovando o exercício destas graças pela meditação séria e pela oração fervorosa. (Catecismo Maior)
Pergunta 172. Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada, deverá ir à Ceia do Senhor?
Resposta: Uma pessoa que duvida de que esteja em Cristo, ou de que esteja convenientemente preparada para participar da Ceia do Senhor, pode ter um verdadeiro interesse em Cristo, embora não tenha ainda a certeza disto; mas aos olhos de Deus o tem, se está devidamente tocada pelo receio da falta desse interesse e sem fingimento deseja ser achada em Cristo e apartar-se da iniqüidade. Neste caso, desde que as promessas são feitas, e este sacramento é ordenado para o alívio até dos cristãos fracos e que estão em dúvida, deve lamentar a sua incredulidade e esforçar-se para ter as suas dúvidas dissipadas; e, assim fazendo, pode e deve vir à Ceia do Senhor para ficar mais fortalecida. (Catecismo Maior)
Pergunta 173. Pode alguém que professa a fé e deseja participar da Ceia do Senhor ser excluído dela?
Resposta: Os que forem achados ignorantes ou cometerem escândalos, não obstante a sua profissão de fé e o desejo de participar da Ceia do Senhor, podem e devem ser excluídos desse sacramento, pelo poder que Cristo deixou à sua Igreja, até que recebam instrução ou tenham melhor procedimento. (Catecismo Maior)
Pergunta 174. Que se exige dos que recebem o sacramento da Ceia, na ocasião de celebrar-se?
Resposta: Exige-se dos que recebem o sacramento da Ceia que durante a sua celebração, esperem em Deus, nessa ordenança, com toda a santa reverência e atenção; que diligentemente observem os elementos e os atos sacramentais; que atentamente discirnam o corpo do Senhor e cheios de amor, meditem na sua morte e sofrimentos, e assim se despertem a um exercício das suas graças, julgando-se a si mesmos e entristecendo-se pelo pecado; tendo fome e sede ardentes em Cristo, alimentando-se nele pela fé, recebendo da sua plenitude, confiando nos seus méritos, regozijando-se no seu amor, sendo gratos pela sua graça e renovando o pacto que fizeram com Deus e o amor que votaram a todos os crentes. (Catecismo Maior)
Pergunta 175. Qual é o dever dos crentes depois de receberem o sacramento da Ceia do Senhor?
Resposta: O dever dos crentes, depois de receberem este sacramento é de seriamente considerar como se portaram nele, e com que proveito; se foram vivificados e confortados, devem bendizer a Deus por isto, pedir a continuação do mesmo, vigiar contra a reincidência no pecado, cumprir os seus votos e animar-se a assistir freqüentemente a esta ordenança; se não acharem, porém, nenhum benefício, deverão refletir novamente, e com mais cuidado, na sua preparação para esta ordenança e no comportamento que tiverem na ocasião, podendo, em uma e outra coisa, apoiar-se em Deus e em suas consciências, esperando com o tempo o fruto da sua participação; se perceberem, porém, que nessas coisas foram remissos, deverão humilhar-se, e para o futuro assistir a esta ordenança com mais cuidado e diligência. (Catecismo Maior)
Pergunta 177. Em que diferem os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor?
Resposta: Os sacramentos do Batismo e da Ceia do Senhor diferem em dever o Batismo ser administrado uma vez só com água, para ser sinal e selo da nossa regeneração e união com Cristo, e administrado também às crianças; ao passo que a Ceia do Senhor deve ser celebrada freqüentemente, com os elementos de pão e vinho, para representar e dar Cristo, como o alimento espiritual para a alma; e para confirmar a nossa continuação e crescimento nele e isso somente aqueles que têm a idade e aptidão para se examinarem a si mesmos. (Catecismo Maior)
Para terminar, João Calvino sobre o tema:
“Finalmente objetam que, segundo esta razão, deveria administrar-se a Ceia do Senhor às crianças, as quais, no entanto, de modo algum são admitidas. Como se a Escritura não assinalasse de todas as formas haver entre eles larga diferença! De fato foi isto freqüentemente praticado na Igreja antiga, como se constata de Cipriano e Agostinho; mas esse costume, com razão, se fez obsoleto. Ora, se ponderarmos a natureza e o caráter específico do batismo, na realidade ele é um como que ingresso e uma, pode-se dizer, iniciação à Igreja, mercê da qual somos contados no povo de Deus: sinal de nossa regeneração espiritual, através da qual somos nascidos de novo para ser filhos de Deus; quando, em contrapartida, a Ceia foi atribuída aos mais adultos que, ultrapassada a infância mais tenra, já estejam em condições de suportar alimento sólido, distinção que se demonstra mui evidentemente na Escritura; porque aí, quanto concerne ao batismo, o Senhor não faz nenhuma seleção de idades. A Ceia, porém, não a exibe à participação de todos igualmente; pelo contrário, somente àqueles que sejam idôneos para discernir-se o corpo e o sangue do Senhor, para examinar-se a própria consciência, a anunciar-se a morte do Senhor, a ponderar-se sua eficácia. Queremos algo mais evidente do que o que o Apóstolo ensina, quando exorta que “cada um se prove e examine a si mesmo, e então coma do pão e beba do cálice” [1Co 11.28]? Impõe-se, pois, examinar-se primeiro, o que
em vão se espera de crianças. De igual modo: “Quem come indignamente, come e bebe para si condenação, não discernindo o corpo do Senhor” [1Co 11.29]. Se não podem participar dignamente, senão aqueles que saibam distinguir corretamente a santidade do corpo de Cristo, por que a nossos filhos ainda tenros ofereçamos veneno em vez de alimento vivificante? Que significa este preceito do Senhor: “Fazei-o em memória de mim” [Lc 22.19; 1Co 11.25]? Que significa este outro preceito que o Apóstolo deduz daí: “Sempre que comerdes este pão, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” [1Co 11.26]? Que memória deste fato, pergunto, exigiremos de crianças, memória que nunca apreenderam pelo senso? Que pregação da cruz de Cristo, cuja virtude e benefício ainda não compreendem com a mente?
Nada dessas coisas se prescreve no batismo, porquanto mui grande é a diferença entre estes dois sinais, os quais também já notamos em sinais similares sob o Antigo Testamento. A circuncisão, com efeito, que se observou ser correspondente ao nosso batismo, fora destinada às crianças [Gn 17.12]. A páscoa, porém, cujo lugar assume agora a Ceia, não admitia a todos e quaisquer convivas indiscriminadamente; antes, era corretamente comida por aqueles que, pela idade, pudessem indagar-lhe a respeito do significado [Ex 12.26]. Se uma simples migalha de cérebro sadio restasse a esses, porventura se fariam cegos para uma causa tão clara e óbvia?” (As Institutas, IV, 16, 30.)
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