Mais que uma pedrinha
Publicado em: Por: Rev. Ageu Magalhães
Há um movimento na Igreja Presbiteriana do Brasil para transformar a formação dos futuros pastores em Educação à Distância, via internet. Sei que muitos cursos já aderiram a este tipo de formação, porém, para formação pastoral, creio que há muito mais a se perder, do que a se ganhar com o modelo. Alisto abaixo 10 motivos importantes para não seguir por este caminho.
1. A opinião dos professores dos Seminários. Depois de mais de um ano dando aulas online, por causa da pandemia, os professores são quase unânimes em rejeitar o modelo.
2. Prejuízo das atividades extracurriculares. Alguns Seminários desenvolvem atividades práticas como evangelismos, visitas a hospitais e a asilos, viagens missionárias, e com o aluno em sua casa, distante do Seminário, tudo isso será deixado de lado.
3. Grupos de apoio às esposas. O ensino à distância vai inviabilizar as reuniões que são feitas com as esposas dos seminaristas, nas quais elas desenvolvem amizades e muita comunhão.
4. Deficiência na capelania. O capelão do Seminário visita a casa do aluno, conhece sua esposa, seus filhos, suas necessidades. Ele ora junto, chora junto e, por mais que isso possa ser feito na tela de um computador, será uma experiência bem inferior à presencial.
5. Nem todos migraram. Alguns cursos superiores não migraram para o sistema EAD dadas às características de sua formação, como, por exemplo, os cursos de Medicina e Odontologia.
6. Formação Pastoral diferenciada. O ideal da formação pastoral é de pastores formando pastores, discipulando, mentoreando, à semelhança do que Jesus fez com seus discípulos.
7. Perda do “currículo informal”. As conversas depois da aula, os cafezinhos com os professores, as visitas às suas igrejas, os aconselhamentos particulares, tudo isso um material de aprendizado para o aluno que está presencialmente no Seminário.
8. Fim da convivência. Um curso à distância acabaria com a convivência do seminarista com os outros alunos no alojamento, os debates e as discussões sobre teologia nos intervalos, e a amizade natural que vai sendo construída nos anos de convivência no Seminário.
9. Conhecimento “olho no olho”. Uma coisa é conhecer o aluno por meio de uma tela, durante uma aula online. Outra é acompanhá-lo pessoalmente e ver como são seus modos, seu jeito de andar e de se vestir, a forma como trata os colegas de classe, o modo como reage ao ser contrariado, ou quando joga futebol com os outros alunos. Uma coisa é a vida acadêmica, as notas obtidas. Outra coisa é a vida pessoal, o caráter. Há aluno que gosta muito de livros, mas não gosta de pessoas. Ao ser colocado em um alojamento, para conviver com pessoas, dá problema ou desiste do curso. E nós estamos formando pastores para lidarem com pessoas. Em um curso à distância essa análise fica prejudicada.
10. A opinião dos especialistas. Todo pai e mãe que viu seu filho tendo aulas pela internet pode falar sobre os problemas que teve. Todavia, até os especialistas fazem críticas ao modelo. É o caso Rossieli Soares, Secretário de Educação de São Paulo, ex-ministro da Educação (2018): “É fundamental que, no ensino superior, a gente acelere esta volta. Há, sim, uma perda de qualidade imensa para quem está no ensino superior. Nós avançamos e tivemos aulas presenciais em muitas universidades. Alguns cursos realmente não voltaram, infelizmente, a ter aulas presenciais. E apesar de eu ser defensor da tecnologia (e defendo mesmo, pois estamos aqui conectados utilizando a tecnologia), mas isso não substitui a presencialidade. Isso é fundamental destacar.”
Assim, eu tenho dito a alguns colegas que se a motivação para o ensino teológico via EAD é financeira, economia de dinheiro, sigam em frente: Gravem todas as aulas e as disponibilizem em um site. Não vamos precisar nem de professores, nem de prédios, nem de salas de aula físicas. Economia total! Porém, se o ideal é um aperfeiçoamento na formação dos futuros pastores, o caminho é totalmente outro: Ensino presencial, com mais professores residentes, mais discipulado e mais mentoria. Cristo discipulou os apóstolos convivendo com eles durante 3 anos. Faríamos bem se o imitássemos nisso. Que Deus nos ajude.
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