Saudade é coisa que dói
Publicado em: 23 de junho de 2010 Por: Rev. Ageu Magalhães
Peço licença aos leitores do blog para escrever algo fora de sua “linha editorial”. Se você precisa de uma justificativa, talvez seja este um escrito de “resistência à tristeza”.
Faz pouco mais de um mês que nossa mãe partiu para estar com o Senhor. Se, do ponto de vista espiritual, sua passagem foi abençoada, como a de Estevão (At 7.54-59), na ótica de quem ficou foi abrupta, misteriosa e violenta (o laudo da autópsia ainda não saiu, mas há fortes evidências de assassinato). Seja como for, há dias sinto a necessidade de registrar algumas palavras sobre a minha mãe, numa espécie de tributo a ela, grande devedor que sou. Escrever é mais fácil que falar e nossos pais espirituais já usavam deste expediente no passado (2Co 2.4).
Minha mãe foi uma mulher muito crente, para mim, um exemplo de piedade. Na sua mocidade ela orava a Deus pedindo um filho, para que fosse pastor. Devoção rara em nossos dias. Durante a sua vida, leu a Bíblia inteira 9 vezes, muito embora, por ter vindo do sertão do Ceará, tivesse apenas o primário completo. Foi superintendente de Escola Dominical, professora e conselheira dos adolescentes por muitos anos. Era apaixonada por leitura. Desde que me lembro, sempre houve a Bíblia e um livro em seu criado mudo. Não dormia sem antes ler os dois. Foi com ela que criei gosto pela leitura. Foram dela os primeiros livros que li e que me despertaram para o ministério. Foi com ela que aprendi a amar a Deus sobre todas as coisas.
Criou três filhos nos caminhos do Senhor, eu e minhas queridas irmãs. Lembro-me da minha infância e adolescência quando chegávamos da igreja, no domingo à noite, e ela proibia a mim e a minha irmã de ligarmos a televisão, para que o ensino do sermão que acabáramos de ouvir não saísse rápido de nossas mentes. Alguns princípios de vida que sigo há anos vieram dela. Por exemplo, o de não recusar trabalhos que Deus nos dá e de ser um homem, no sentido mais completo da palavra, responsável e ativo, nunca omisso, nas lutas para o bem da Igreja.
Hoje, há poucas semanas de sua partida a dor da saudade aperta o meu peito. Sua lembrança está em todas as partes. Na comida que o restaurante oferece e que, me lembro, ela fazia muito melhor (mandioca frita, baião de dois, bolinho de chuva, doce de leite com alguns cravos); no sorriso dos meus pequenos filhos quando penso que ela também passou por esta fase e nos criou com o mesmo carinho que tentamos criar agora os nossos; no rosto e temperamento de minhas tias, irmãs e sobrinhas que refletem fisica e emocionalmente traços próprios seus e no meu próprio espelho quando vejo ali, expresso em minha estrutura, semblante e gestos, o corpo de meu pai, homem que ela amou a vida inteira e que foi chamado para a glória 6 anos antes de sua partida.
Como “não há mal que não traga um bem” frase originária de minha avó e tantas vezes usada por minha mãe, eco de “todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Rm 8.28), a vida segue. Segue na certeza de que Deus faz tudo perfeito e a seu tempo. Segue na confiança de que o Consolador está conosco, a cada dia. Segue na esperança de que um dia reencontraremos nosso pai e nossa mãe (1Ts 4.13,14) não mais com as marcas de sofrimentos que passaram por aqui, mas radiantes e com a alegria indizível (1Pe 1.8) própria de quem está com nosso amado Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Antes deste reencontro acontecer, cabe a nós, os que ficamos, viver vidas dignas dos pais que tivemos. Cumprindo o “honra teu pai e tua mãe” mesmo na ausência física deles, sendo exemplos para nossos filhos, pois isto é agradável ao Senhor.
Saudade é coisa que dói, mas temos um Deus que é Pai de misericórdia e de toda consolação. “É ele que nos conforta em toda a nossa tribulação, para podermos consolar os que estiverem em qualquer angústia, com a consolação com que nós mesmos somos contemplados por Deus.” (2Co 1.3,4). A Ele, doador da vida, nossa gratidão pela salvação (Jo 10.28) e esperança bendita da vida eterna. A Ele toda a glória. Amém.
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Que Deus o autor da vida lhes console com Seu poderoso Espírito!!!
Sinto pela sua perda. Convivi pouquíssimo com ela, mas belo tributo foram essas suas palavras. O Consolador não nos deixa órfãos.
Ageu,
Belas palavras. Não conheci a sua mãe, mas pelo relato tenho a certeza de que era uma mulher abençoada.
Que Deus conforte cada dia mais o seu coração e de seus familiares.
grande abraço,
Milton Jr.
Caro Pastor João Duarte, obrigado pelas palavras. O consolador está conosco.
Caro Lucas, obrigado pelas palavras.
Caro Rev. Milton, obrigado pelas palavras. Abraço.
"Preciosa é aos olhos do SENHOR a morte dos seus santos" (Sl.116:15)
Oi mano, graça e paz.
Apesar deste seu post ser de junho 2010, passei aqui para prestar minha solidariedade.
Sei muito bem o que é perder a mãe. Dor, para mim pessoalmente, apesar de crer na eternidade com Jesus e onde ela certamente está, é que esta dor nunca foi embora (e nem sei se irá) perdí minha mãezinha, Dona Silvia em 08 de outubro de 2008. Até hoje me arrasto psicologicamente, infelizmente. Ao ler seu post me deu uma saudade… Confesso que estou todo emocionado.
Estou seguindo seu blog.
NEle, o consolador.
Sandro Duarte
http://oreinoemnos.blogspot.com/
Caro Fabrício, obrigado pelas palavras.
Caro Sandro, que o Deus Consolador continue ao seu lado, renovando suas forças e aumentando a esperança de um dia estarmos com Ele e com nossos queridos que já partiram. 1 Tessalonicenses 4.13,14 e um forte abraço, Ageu.
Reverendo compartilho do seu pesar, pois já fazem 16 anos que minha mãe partiu para encontrar o rei da glória, por mais que já se façam tantos anos, volta e meia a saudade aperta.
Diferente do senhor não lembro do gosto da comida dela, mas lembro de uma reunião de oração em nossa casa pouco tempo antes dela partir, eu tinha nove anos, ela orou para que o Senhor cuidasse de minha irmã e de mim e Ele o tem feito, tenho fé que um dia a encontraremos e poderemos desfrutar juntos da face do Senhor.
Grabde abraço reverendo Ageu.
Caro Enoil, pois então faz 16 anos que ela está com o nosso Senhor, desfrutando de alegria indizível. Sigamos pelo mesmo caminho! Abraço.