O que Calvino realmente disse sobre o quarto mandamento? – Rev. Dr. Prof. Francis Nigel Lee

Publicado em: 19 de janeiro de 2016 Por: Rev. Ageu Magalhães
João Calvino de Genebra (1509-1564)… desferiu o golpe de morte para os dias de festa dos romanistas e deu grande ímpeto ao Decálogo e à observância do domingo. Muito uso tem sido feito pelos antinomistas anabatistas a respeito das cuidadosas afirmações de Calvino em suas Institutas de 1536 de que “foi bom deixar de lado o dia guardado pelos judeus” — mas pouco uso tem sido feito das afirmações igualmente cuidadosas que aparecem duas linhas depois na mesma sentença, de que “foi necessário estabelecer em seu lugar outro dia”.(1) Antinomistas têm enfatizado a afirmação verdadeira de Calvino contra os romanistas de que guardadores ferrenhos do domingo “insultam os judeus pela mudança do dia, e ainda atribuem a ele a mesma santidade” — mas ignoram sua afirmação, igualmente verdadeira (aparentemente contra os antinomistas!) que aparece seis linhas depois: “Tenhamos o cuidado, entretanto, de observar a doutrina geral… diligentemente comparecendo às nossas assembleias religiosas”.(2)

Anti-calvinistas desprezadores da lei não falharam em apreender a opinião correta do genebrino quando disse que “o sábado tenha sido revogado” — mas falharam em apreender com igual correção a opinião apresentada na seção seguinte, de que “algumas mentes levianas se agitam demais hoje em dia por causa do domingo. Queixam-se de que o povo cristão continua preso a um tipo de judaísmo, visto que ainda retém alguma observância de dias. A isso respondo que sem judaísmo observamos o domingo”.(3) Essas “mentes levianas” não se furtam de citar fortes afirmações de Calvino de que “Cristo é o verdadeiro cumprimento do sábado” e que ele “não está contente com um dia, mas exige o curso inteiro de nossa vida” etc. — mas se furtam de afirmações igualmente fortes de que Deuteronômio 5 é “igualmente aplicável a nós como aos judeus” e que nos tempos apostólicos “os primeiros cristãos substituíram o sábado por aquilo que nós chamamos de Dia do Senhor”!(4) 

Contudo, talvez ainda mais importante do que suas visões nas Institutas de 1536 — escritas em seus tenros 26 anos de idade — são as afirmações posteriores de Calvino sobre a questão do sábado, sobre as quais os antinomistas mantêm o mais profundo silêncio. Em seu sermão em Deuteronômio 5, ele escreveu sobre “quando as janelas das nossas lojas estão fechadas no dia do Senhor, quando não andamos segundo a ordem comum e o costume dos homens.” Ele pergunta: “Se empregamos o Dia do Senhor para nos distrair, para nos exercitar, para ir a jogos e passatempos, Deus está sendo nisto honrado? Não é isto uma zombaria? Não é uma profanação de seu nome?”.(5) 

Em 1550, de acordo com Beza, seu biógrafo, Calvino determinou “que não deveria haver qualquer outro dia de festa, exceto um em sete, que nós chamamos do Dia do Senhor”;(6) e no ano de 1554, ele escreveu em seu Comentário ao Gênesis (2.1-3) que Deus “primeiro descansou, então abençoou este descanso que em todas as eras deveria ser sagrado entre os homens”. “Deus”, continua Calvino, “consagrou cada um dos sétimos dias de descanso” e que, “sendo ele [o shabbath] ordenado aos homens desde o princípio, para que o empreguem na adoração a Deus, é certo que deve continuar até ao fim do mundo”. “Além disso”, conclui, “deve-se notar que essa instituição tem sido dada não a um único século ou povo, mas a toda a raça humana”.(7) 

Um ano antes de sua morte em 1564, Calvino claramente afirmou com respeito a Êxodo 20, em sua obra Harmonia do Pentateuco, que “temos a mesma necessidade de um dia de descanso que os antigos”; e acrescentou: “não é crível que a observância do dia de descanso tenha sido omitida quando Deus revelou o rito de sacrifício aos santos Pais, mas aquilo que na depravação da natureza humana estava completamente extinta entre as nações pagãs, e quase obsoleta entre a geração de Abraão, Deus renovou em sua lei”.(8) 

Essas visões do grande genebrino foram propagadas e desenvolvidas por todos os seus seguidores que orgulhosamente chamavam-se por seu nome — os calvinistas.

Notas:
1 Calvino: “Institutas”, II: VIII:33.
2 Ibid., II: VIII:34
3 Ibid., II: VIII:32, 33.
4 Ibid., II: VIII:32, 34.
5 A. A. Hodge: op. cit., pp. 18-19.
6 Beza: op. cit., I, p. xciii.
7 A. A. Hodge: op. cit., pp. 17:8; Kuyper: “Tractaat” etc., pp. 165-166.
8 Calvino: “Harmony of the Pentateuch”, p. 437. 


Fonte: The Covenantal Sabbath
Tradução: Márcio Santana Sobrinho
Monergismo
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